A inquietação sobre o processo de desfralde está sempre presente nas famílias e nas comunidades escolares. O medo do desconhecido não é somente da criança, mas de todos que vivenciam com ela o processo maturacional sobre o controle dos esfíncteres – fezes e urina.

A ansiedade por “tirar a fralda” deve respeitar o momento individual da criança, seu interesse por conhecer o penico/ adaptador do vaso, sua verbalização sobre o xixi e o cocô, bem como sua autonomia motora (andar, ter o corpo mais firme).

O mais indicado é iniciar após os dois anos completos, quando a criança passa a ter mais maturidade fisiológica. Logicamente que o marco não pode ser os dois anos em si, pois cada criança amadurece ao seu tempo, umas conseguirão o desfralde perto dos três anos, por exemplo.

O que vale destacar são alguns pontos que sinalizam o controle dos esfíncteres e a maturidade emocional e fisiológica da criança:

  1. A criança permanece com a fralda mais de duas horas seca e, ao “sujar” pede para ser trocada ou sinaliza o incomodo.
  2. A criança demonstra interesse por usar o penico/ vaso sanitário.
  3. A criança solicita usar calcinha ou cueca
  4. A criança já é capaz de compreender solicitações simples: “vamos fazer xixi no penico?”, “tire sua calça para fazermos o xixi”

O processo de desfralde não pode ser doloroso nem para a criança, nem para a família. Deve ser leve, lúdico. Não se deve chamar a atenção da criança quando há escape, não se deve despertar o nojo ou o medo.

Use calcinhas e cuecas coloridas, de personagens que a criança goste. Leve-a fazer a compra, permita sua escolha.

Existe a orientação para que o penico seja o primeiro contato fora da fralda, uma vez que permite que a criança se sinta mais confortável, com os pés apoiados no chão. Caso opte pelo adaptador de vaso, permita que a criança apoie os pés, ao sentar, em um banquinho, por exemplo. Para os meninos, ensine faze sentado, depois vá fazendo a transição para urinar em pé, por uma questão motora mesmo. Fazer em pé requer mais controle motor!

E, jamais, compare a criança a outra criança. Cada uma tem o seu tempo e a sua maturidade.

Muitas pessoas me questionam como foi o processo aqui em casa. Vou resumir!

Bia passou a demonstrar controle da urina em Novembro de 2019. A fralda permanecia por um bom tempo seca e, ao urinar, parava e sinalizava “xixi”.

Numa “brincadeira”, nos últimos dias de Dezembro de 2019, na casa dos avós, em férias, sugerimos tirar a fralda e usarmos as calcinhas que já havíamos comprado. Ela estava com dois anos e três meses. Ela aceitou. Como sempre nos acompanhava no banheiro (pais), já sabia que o uso do vaso era comum. Usamos o penico de início. Presente da madrinha. Tocava a cada xixi ou cocô depositado. A festa era enorme! Ajudava desprezar no vaso. No primeiro dia, houveram escapes. Ela ficava aflita e dizíamos que não tinha problema, fazíamos a troca e orientávamos para o uso do penico, relembrando com amorosidade sobre o uso correto para fazer o xixi e o cocô.

No segundo dia já não tivemos escapes significativos. A calcinha podia receber algumas gotinhas de xixi, mas ela segurava e sinalizava, aos berros, que o xixi estava “vazando”. Seguimos, com leveza e com disponibilidade! Essa é a palavra chave para um desfralde de sucesso, também! O adulto que irá mediar o processo precisa estar DISPONÍVEL! Não esperávamos ela pedir o xixi sempre. Oferecíamos, outras vezes, levávamos junto conosco. Ela usou o penico por uns dois meses. Depois preferiu o adaptador de vaso. Sentia-se “grande” ao usar o vaso como os pais. Para nós foi muito bom, pois compramos um adaptador e deixamos no carro, o que facilitou todos os nossos passeios! Ela não se negava a usar o banheiro em lugar nenhum, pois tinha seu adaptador à mão.

As fezes também não foram complicadas. Teve um episódio “engraçado”! Estava de calcinha e vestido. Fez o cocô e saiu andando pela casa, deixando um rastro de pedrinhas por onde passou! Rimos da situação juntas e, ao recolher explicava que não podia, que o cocô tem sujeirinhas e não pode ser feito no chão e nem na roupa.

O desfralde noturno está sendo concluído agora, com três anos e um mês. Há uma semana solicitou dormir sem fralda. Há muitos dias amanhecia com a fralda seca. Em uma noite de calor, disse que a fralda estava incomodando e pediu para tirar. Dormiu sem, acordou seca! Na segunda noite, um mar de xixi tomou conta da cama! Estávamos preparados com o protetor de colchão impermeável. Mas, às 4h30, o pai precisou levantar, trocar a roupa de cama, dar um banho e fazer a troca. Oferecemos a fralda. Ela se negou e respeitamos. Colocamos ela para fazer xixi antes de dormir. Mas sabemos que os escapes ainda poderão acontecer.

Muitas pessoas orientam o desfralde diurno e noturno concomitante. Por aqui optamos por fazer respeitando a sua maturidade em momentos distintos, inclusive seguindo a orientação da nefrologista* que acompanha a Bia, que nos alertou sobre a possibilidade de seguir com os processos separados, sem problema algum.

Observe sua criança. Respeite o seu momento. Não coloque a ansiedade à frente do seu tempo. Leveza, disponibilidade e respeito ao tempo da criança é uma soma de sucesso para o desfralde!

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*Bia faz acompanhamento com nefrologista infantil devido a um episódio de cristais na urina. Como tenho problemas com cálculos renais e esse problema pode ser transmitido por hereditariedade o acompanhamento da Bia se faz necessário com frequência. Não procuramos atendimento médico por causa do desfralde.