Sabemos que a violência e o abuso sexual infantil ainda é muito comum! Dados, apresentados em um texto da UNICEF no dia 2 de Dezembro de 2020, apontam que, diante da problemática da Pandemia gerada pelo COVID-19, muitos casos deixaram de ser relatados às autoridades, infelizmente (acesse o texto clicando aqui).

Contudo, faz-se necessário lembrar que, a prevenção, o diálogo e o empoderamento infantil são de suma importância para que nossas crianças deixem de ser vítimas deste ato criminoso. Muitas famílias, ainda, desconhecem as ações que podem realizar a fim de orientar, supervisionar e denunciar o abuso sexual infantil. Além do disque 100, que recebe denúncias anônimas, as famílias podem proceder com a denúncia no Conselho Tutelar da cidade, ou em delegacias da Polícia Militar ou Polícia Civil.

Trouxemos, também, algumas orientações da Psicóloga e Pedagoga, Maria das Graças Vergilio, que tem sua trajetória profissional trilhada no atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual e demais violências, atuando nos dias de hoje com crianças e adolescentes em alta situação de vulnerabilidade social. Graça inicia nosso bate papo trazendo o conceito de sexualidade “A sexualidade faz parte da personalidade humana, é uma necessidade do indivíduo e não pode ser separada de outros aspectos da vida. Todos temos sexualidade, ela está presente desde o nosso nascimento até a nossa morte, portanto ela nos acompanha durante toda a nossa existência.” Ela alerta para a diferenciação entre sexualidade e ato sexual “Sexo ou ato sexual é a relação sexual, independente se é com outra pessoa, objeto ou demais alternativas. Sexualidade faz parte da personalidade do indivíduo, suas preferências. É a pulsão que motiva o encontro do amor e prazer. Um exemplo: posso viver sem fazer sexo, sem o coito, sem o orgasmo, mas não consigo evitar o sentir, o desejar, o amor ao outro, o sentimento do desejo, isso é sexualidade.”

Outro assunto que ainda traz muitas dúvidas para as famílias é o momento que o adulto deve falar sobre prevenção, sobre sexualidade com a criança. Graça nos orienta que o melhor momento para iniciar a conversa é quando a criança der o start de suas dúvidas, de seus questionamentos. A família deve responder as dúvidas da crianças de forma lúdica e, se no momento da pergunta a família não estiver preparada para a resposta, diga para a criança: “Vou pesquisar sobre e voltamos a nos falar!” É um momento de “respiro” que a família ganha para elaborar a resposta e voltar a conversar com a criança. Mas é necessário retomar o assunto. A criança nunca pode ficar sem a resposta para seu questionamento. Graça também nos orienta a proceder com as explicações utilizando livros infantis, músicas ou qualquer outro recurso pedagógico que possa servir de apoio para a conversa sobre prevenção. Ela indica dois livros infantis que falam sobre sexualidade: Mamãe como eu nasci? e Sexo não é bicho Papão! ambos do autor Marcos Ribeiro. “Há vários materiais lúdicos que podemos utilizar para falar de sexualidade com nossas crianças pequenas, tanto a casa lúdica com a família terapêutica são ótimas opções, trata-se de um brinquedo, uma casinha de madeira com todos os espaços e nesta casa tem uma família que podem ser bonecos de pano, com todos os personagens. Neste momento os pais podem brincar com as crianças e explicar os papéis, os vínculos de cuidado, onde a criança está na casa, qual lugar ela ocupa, etc. Deixar a criança criar a história da família proporciona maior aproximação parental e fortalece os vínculos”, comenta Graça.

Quando falamos em abuso sexual infantil, pensamos sempre no ato sexual, no coito em si. Porém precisamos estar atentos aos demais tipos de abuso que a criança pode sofrer e que são tão prejudiciais quanto o abuso sexual físico. “Abuso por exposição de imagens pornográficas, músicas com apologias violentas ou de cunho sexual, observar a criança ou adolescente por frestas quando toma banho, casais que praticam relação sexual na presença da criança. Essas são formas de abuso sexual que as pessoas não imaginam”, relata a psicóloga Graça Vergilio.

Outro ponto bastante conflituoso, que questionamos é como orientar a criança sobre “ninguém pode colocar a mão no que está dentro da sua calcinha ou da sua cueca”, sem que estejamos criando um “tabu” nas crianças? Sem que possamos desenvolver um “medo” ou um receio sobre a sua sexualidade, interferindo assim na sua vida adulta? “Primeiro, o diálogo é o segredo de tudo, a criança deve saber o que há em seu corpo e quais são suas partes privadas, e o que é privado? Privado é o que é nosso, o que ninguém deve mexer! Pronto! A partir daí o diálogo já avançou 90%. Ademais vamos explicando para ela que a vagina ou pepeca, o pênis ou pinto ou piupiu, é privado e que só ela ou uma pessoa AUTORIZADA POR ELA, deve colocar a mão quando necessário! E nós adultos não podemos tratar o nosso corpo como tabu, nós também temos que ter a consciência do que é privado para nós para assim podermos orientar nossas crianças”, nos ensina.

É sempre válido tratarmos do assunto com naturalidade. Nomear as partes íntimas com apelido, por exemplo, não confunde a criança, como comenta a psicóloga “A forma como a criança se refere ao seu órgão genital vai determinar o quanto aquela região é de afeto e carinho por ela, a criança deve chamar sua parte íntima da maneira como ela quiser e com o passar do tempo ela vai se familiarizando com vulva, vagina e pênis e não se confundirá de maneira nenhuma.”

Um assunto denso, porém, de extrema necessidade de diálogo! Prevenção é diálogo constante, diálogo lúdico, diálogo aberto e franco.

Se você ficou curioso em saber mais sobre o assunto, acesse a entrevista na íntegra em nosso Canal do YouTube, lembrando que esta entrevista também está acessível em LIBRAS (participação especial de Priscila Scapin, professora e intérprete de LIBRAS)

Agora, se você quiser entrar em contato com a Psicóloga Maria das Graças Vergilio, você pode contatá-la pelo WhatsApp ou por E-mail.

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Imagem: Shuravaya de Getty Images (by CANVA)