A Inclusão é um tema, um assunto, que debruça muita reflexão, muitos esforços e demanda a atuação de vários profissionais em parceria com a família, para que seja realizada com equidade. Não basta inserirmos, temos que incluir de fato! Trazendo didática, materiais, ganhos pedagógicos, sociais, emocionais a toda a comunidade escolar.

A inclusão da criança com deficiência, na Educação Infantil, perpassa, na maioria das vezes, pela observação e indicação de avaliação de um profissional qualificado para identificar qual é a deficiência, seu grau e, com base nesta descoberta, escola, família e demais profissionais possam garantir a equidade educacional.

Convidamos para nossa reflexão a professora Amanda Previato, Pedagoga com habilitação em Educação Especial, especialista em Arte, Educação e Movimento e, uma das idealizadoras do Canal Tantos Contos.

Amanda inicia nosso bate papo trazendo a definição de Inclusão Escolar: “A inclusão escolar é um conceito de educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças. Ela não diz respeito apenas às crianças com deficiências laudadas por especialistas da saúde, mas em oportunizar a aprendizagem de TODOS os alunos, respeitando seus limites e dando espaço para que desenvolvam suas potencialidades.”

Com isso sentimos a necessidade de entender como a inclusão ocorre, de fato no ambiente escolar e, elucidar as famílias no que se refere ao ato de matricular as crianças na escola regular. Muitas famílias ainda desconhecem o direito de educação oferecida em escola regular e, Amanda nos trazer algumas informações importantes: “A inclusão escolar é moldada de acordo com a visão que cada gestor possui da educação. Existem diretrizes colocadas pelo MEC e que devem ser cumpridas em âmbito nacional, mas cada estado e município possui (ou não) políticas públicas referentes à prática da inclusão em cada local. E ainda, fora a gestão pública que atua em um nível mais amplo, temos a gestão de cada unidade escolar, que também fará toda a diferença na maneira como as coisas serão organizadas no dia a dia para os alunos. Portanto, a inclusão escolar deveria ocorrer de modo a verificarmos a situação real de cada criança e adolescente, e oferecermos algo às turmas que beneficiem, de fato, a todos, em termos de aprendizagem; porém, vemos muitos obstáculos nesse processo, que vão desde diretrizes não tão claras vindas do MEC até falta de condições, conhecimento, empatia e organização das escolas para oferecer o que os alunos precisam. Existe uma lei federal que garante a realização da matrícula da criança público-alvo da educação especial nas instituições de ensino. Há bem pouco tempo, isso acontecia com frequência – muitas escolas negavam as matrículas alegando que não tinham condições de receber aquela criança. Então, caso uma família tenha a matrícula do estudante em uma instituição de ensino negada, ela pode recorrer judicialmente para conseguir essa vaga. Porém, vejo sempre o seguinte questionamento por parte das famílias: será que nós realmente queremos matricular nosso filho ou filha em uma escola que não quer recebê-lo? É algo bastante complexo.”

Temos, nos dias de hoje, depois de alguns anos de estudo e com pequenos avanços, uma política inclusiva que precisa crescer muito… Precisamos de um olhar mais profissional, mais acolhedor e mais humanizado para a Inclusão em âmbito educacional. “Em 2001 foi promulgada a lei que garante o atendimento pela educação especial à criança com deficiência, autismo ou altas habilidades nas escolas de educação básica. No caso, a orientação é de que esse aluno público-alvo da educação especial (que chamamos de PAEE) receba um atendimento educacional especializado no período oposto ao que está matriculado na escola. Durante toda a educação básica, portanto, há o direito desses alunos de receber esse atendimento, e a forma como ele é realizado difere entre cada estado e município”, esclarece Amanda.

Também questionando a Amanda sobre como lidar com as múltiplas deficiências na sala regular de Educação Infantil, considerando que a demanda de cuidados, a demanda pedagógica, nesta faixa etária, requer atenção redobrada do professor e, Amanda nos traz uma resposta bastante reflexiva. Vejamos:

“Em um primeiro momento, penso em coisas relativas à organização dessa sala de aula, aquela organização que vem antes das aulas propriamente ditas – número de alunos e disposição do espaço físico. Se pensarmos em um ideal, a redução da quantidade de crianças por sala, um mobiliário adequado, espaços de circulação que não sejam apertados… Tudo isso, certamente, contribuiria muito para lidar com essa demanda! Mas sabemos que a realidade com a qual lidamos, sobretudo na rede pública nem sempre é assim, não é? Existem algumas atitudes que parecem pequenas, mas que fazem muita diferença na hora de lidar com um grupo de crianças que tenham alunos PAEE, e que podem ser bastante benéficas para todas as crianças: 1 – Primeiramente, receber os alunos com uma atividade motora, como massinha ou peças de encaixe, por exemplo. Naquele momento em que todos estão chegando na escola, a professora ou professor está na porta recebendo as crianças, é interessante já engajá-los em uma atividade motora – assim você terá uma sala relativamente tranquila na qual as crianças estarão “trabalhando” enquanto precisa receber alunos e conversar com pais. Isso pode ser particularmente benéfico às crianças com deficiência intelectual ou autismo, que terão previsibilidade sobre o que encontrarão ao chegar na escola. No caso de uma criança com TDAH ou autismo que tenham algum hiperfoco, você pode oferecer algo relacionado ao interesse deles. 2 – Preparar fichas que contenham fotos ou figuras das atividades que acontecerão ao longo do dia. Com a ajuda dos alunos, você pode dispô-las em sequência na parede da sala ou na lousa, para que possam acompanhar o que acontecerá. Isso trará tranquilidade e segurança, além da aprendizagem relativa à própria sequência em si. 3 – Conheça seus alunos. No caso da criança PAEE, busque saber do que ela gosta, do que não gosta, quais são os comportamentos que ela tem que podem atrapalhar o cotidiano da turma e perceber o que desencadeia esses comportamentos. Você pode melhorar muito sua lida com esse aluno se conversar com os pais e profissionais da saúde, caso ele faça terapias. Converse com o professor de educação especial responsável em sua escola, para que juntos, pensem em estratégias que favoreçam o dia a dia escolar de vocês. Antes de tudo, lidar com crianças PAEE requer sensibilidade e empatia, e essas duas coisas são as grandes chaves para conseguir lidar com mais tranquilidade com todas as demandas de uma turma heterogênea, como as que temos hoje em dia.”

Hoje, com muito estudo, reflexão e esforços, a Inclusão Escolar não contempla mais as salas especiais, uma vez que se entende que o conceito de educação inclusiva parte de outro viés. “Não cabe no conceito de inclusão a ideia de se ter salas especiais nas escolas. Nesses casos, as crianças que tem deficiência, autismo ou altas habilidades ficariam segregadas, recebendo um ensino à parte, dentro da escola, quando a inclusão é justamente o movimento de todos participarem do mesmo processo, e que este atenda às necessidades dos estudantes, sejam elas quais forem. Ao matricular os filhos na educação infantil, é necessário que os pais fiquem atentos a como a escola lida com os alunos PAEE, peçam exemplos de outras crianças que frequentam a escola. É comum vermos práticas em que a criança deficiente ou autista fica com um profissional à parte da turma, ficando com as outras crianças apenas na hora do parque, por exemplo. Deixe claro o que vocês esperam em relação ao ensino do filho de vocês, e estejam disponíveis para trabalhar em parceria com a escola, entendendo que a instituição pode ter dúvidas sobre como fazer as coisas da melhor forma. É importante que família e escola busquem um caminho juntas” – comenta Amanda.

É fundamental que a escola e a família caminhem juntas em prol da inclusão escolar na primeira infância. Nesta etapa da vida da criança ela tem uma explosão de aprendizagem e necessita de muitos estímulos, necessita de muitas pessoas que colaborem para a sua vida escolar. Finalizamos nossa entrevista, trazendo a importância do trabalho em conjunto entre família e escola sob a visão da Professora Amanda. “A equipe multidisciplinar pode oferecer muitas ideias de como lidar com a criança em sala de aula, quais são os desafios que ela está superando naquele momento e o caminho que já percorreu. Neste sentido, fica muito mais fácil para a equipe escolar compreender as atitudes e necessidades da criança, e pensar em meios de contempla-las da forma mais adequada. Uma coisa que nunca devemos esquecer é que cada criança é única. Apesar de determinadas deficiências e transtornos terem características próprias, o modo como elas vão se manifestar em cada indivíduo é algo extremamente peculiar. Portanto, devemos sempre pensar que não existe uma fórmula pronta e dificilmente irá existir uma escola que contemple todas as necessidades de um aluno antes de conviver com ele e entender do que ele realmente precisa. A família e a escola devem ter um diálogo aberto a respeito e, sobretudo, confiança entre os envolvidos. Dessa maneira, a troca de informações vai facilitar a organização, e a própria criança se sentirá confiante no ambiente para se desenvolver da forma mais plena possível.”

O que achou desta reflexão? Como podemos, de fato, melhorar a educação infantil com objetivo de atender a sua demanda em totalidade, considerando as potencialidades de cada aluno? Você já tinha refletido sobre inclusão através dessa ótica?

 

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