Histórias. Histórias de vida, histórias infantis, histórias do povo. Construímos histórias a cada amanhecer. Nossas crianças têm sede de conhecimento. Sede do novo. Sede pelo encantamento.

Contar histórias vai muito além do ler um livro. Contar histórias é mergulhar no universo da imaginação, do encantamento. É permitir que seu corpo, sua voz, sejam emprestados aos personagens.

Rita Cândido, Pedagoga, Psicopedagoga, Mestre em Educação e uma das idealizadoras do Canal Tantos Contos no YouTube trouxe suas contribuições para que nós, pais, professores, cuidadores, profissionais engajados com a Primeira Infância possamos desfrutar do conhecimento acerca do poder das histórias.

Quando falamos em primeira infância, trazemos o universo da criança desde sua gestação. O incentivo da oralidade, da escuta, precisam ser objeto de ação do adulto mediador. Rita comenta que “As histórias fazem parte do nosso repertório enquanto seres humanos. Desde que o homem começou a se juntar em grupos, houve a necessidade de comunicação e a partir daí as histórias foram criadas. Às vezes pensamos que para contar história é preciso ter recursos variados. É claro que ter fantoches, livros e acessórios enriquecem as narrativas, porém, se contamos as nossas histórias cotidianas, de forma simples, respeitando a linguagem e o repertório de compreensão da criança, já é possível ter um momento mágico. Por este motivo, não temos desculpas, para contar história basta querer e se dispor. As histórias podem ser contadas desde que os bebês estão na barriga e isso pode fortalecer o vínculo do bebê com a família, sentindo o aconchego, a voz e o carinho daqueles que estão contando e esperado sua chegada. Contar histórias para bebês pode estimular o desenvolvimento da linguagem, da atenção e da concentração. É sempre bom partir de temas que sejam pertinentes para cada idade. No canal estamos investindo em pesquisas de histórias para bebês, transformando as musiquinhas populares em histórias narradas. É uma delícia fazer este trabalho! Quando a criança recebe essa herança dos pais, ela nunca mais esquece e esses momentos passam a ser eternizados.”

Quando nos reconhecemos como protagonista das nossas histórias, conseguimos fazê-las aflorar em nossa voz, trazendo para o outro, a importância do nosso legado.

Muitos pensam que a contação de histórias só tem seu ponto de partida através da leitura de um livro. O que não é verdade! Afinal a história está intimamente ligada à leitura. Muitas pessoas desconhecem o poder das histórias no que se refere a utilização de outros recursos que não os livros infantis. Como podemos “mesclar” a contação de histórias usando diferentes materiais sem deixar a importância da presença do livro físico? “Essa pergunta é muito interessante, pois ela nos remete a diferenciação entre leitura e contação. A leitura é uma prática de extrema importância, que requer um repertório de domínio da leitura e compreensão. Portanto, para ler é preciso saber decodificar o sistema de escrita. Sem dúvida nenhuma, nós educadores temos que incentivar este processo das diversas formas: leitura do adulto, leitura da criança, leitura compartilhada, leitura para compreensão e interpretação…enfim, para que se faça a leitura precisamos de livros. Neste sentido, incentivamos este contato com livros de forma natural, proporcionando novas descobertas…ler é uma aventura e nós podemos nos colocar como mediadores, ficando entre a criança e o livro. Contar histórias é diferente, pois tudo o que fazemos no dia é contado em histórias. Se vamos ao supermercado e contamos o ocorrido na volta para um amigo, estamos contando história. Quando contamos, imprimimos nossa opinião sobre o fato e para cada fato existem muitas versões. É por este motivo que a mesma história pode ser contada de diversas formas por pessoas diferentes. Se optamos por contar uma história de um livro, devemos referenciá-lo, mencionando que foi baseada no livro tal. Contar e ler são práticas diferentes, mas as duas, se forem trabalhadas de forma envolvente tendem a incentivar o processo de leitura” – esclarece Rita

Pais, familiares, cuidadores, muitas vezes não sabem por onde começar! Crianças adoram o “mundo da imaginação”. Estimular a contação de histórias é, sem dúvida, incentivar a oralidade, a capacidade inventiva, a ordenação cronológica de fatos, a criação criativa. As famílias, muitas vezes, desconhecem as inúmeras benfeitorias que as histórias infantis trazem para o desenvolvimento infantil. Deixamos algumas questões para que a Pedagoga Rita Cânido pudesse nos fazer refletir. Como podemos orientá-la? Existe uma regularidade na ação? Existe um ambiente a ser preparado?  “Para os pais que estão lendo eu digo: contem as histórias de vocês, contem as histórias que ouviram quando crianças, inventem histórias. As narrativas liberam a imaginação das crianças, mas liberam a imaginação dos adultos “engessados” e que buscam fazer um elo com os pequenos. Nós podemos nos surpreender e aprender muito neste processo de contar histórias. Se você não experimentou, tente hoje, pegue um fato que te aconteceu, chame seu filho, filha, sobrinha…comece contando de um jeito envolvente, não há limites para a imaginação, você pode criar personagens, cenas, vozes, fazer gestos. Você vai ver como será divertido! Experimente!”

Mas, afinal, quais são os super poderes das histórias? “As histórias tendem a trazer à tona nossos “super poderes” que estão guardados e nem nós sabemos. Elas têm o poder de aproximar, de encantar, de apaixonar, de trazer raiva, de trazer alegria, tristeza, de penetrar em nossos corações. Como você se sente com uma história que não tem final feliz? Que sentimento é liberado em você? Pois bem, nossos sentimentos e emoções são liberados com as histórias, por isso precisamos permitir e deixar as histórias transitarem por nós. Tem muita gente que nega as narrativas, não produz histórias, tem medo de se expor e isso vira doença. Pois bem, contar histórias pode curar. Comece falando sobre as histórias que te deixam mal e você verá como sua vida pode mudar. Histórias de tristeza guardadas trazem angústias, é preciso colocar para fora. No processo de alfabetização, quando o professor conta história e quando ele ouve as histórias de seus alunos, ele possibilita um espaço de cura para possíveis bloqueios e facilita o processo de alfabetização. Eis um recurso super poderoso!” – comenta Rita.

Agora que já conhecemos os super poderes das histórias, Rita nos deixa reflexão bastante produtiva para que todos possam colaborar para que as crianças criem as suas próprias histórias, criem seu legado.

“Quero que vocês passem a olhar para a importância das histórias na vida das crianças, mas também que reflitam sobre o poder das histórias na vida de vocês. As histórias podem mudar nossas vidas, nos aproximar e nos curar. Nós somente podemos oferecer para as crianças aquilo que temos. Não adianta você dizer para a criança ler, estabelecer uma rotina rígida de tantas páginas por dia de leitura e você mesmo não gostar de ler. Não adianta você dizer para seu filho que ele precisa te contar tudo o que acontece na vida dele e você mesmo não conta suas histórias, guarda tudo pra si, não se permite criar, não se permite dialogar sobre fatos que te aconteceram ou estão acontecendo em sua vida. Permita-se estabelecer um elo com seu filho/a, aluno/a. O processo terapêutico das histórias é super importante para a infância, mas também é para você, adulto.”

E se você tiver curiosidade de vivenciar o universo da contação de histórias, deixamos o convite para conhecerem o Canal Tantos Contos no YouTube, criado pelas pedagogas Rita Cândido e Amanda Previato. Com certeza você, a criança que vive dentro de você, a sua criança, os seus filhos, os seus netos, irão gostar muito das histórias contadas pelas duas.

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