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Criança não namora, nem de brincadeira! Mas, criança sente afeto e não é de brincadeira! Esse “trocadilho” nos ajuda a entender, a acolher, a ouvir, a mediar as muitas situações que aparecem em nossa vida de professora ou em nossa relação com nossos filhos.
Vou contar duas histórias para vocês. Ambas verdadeiras. Na primeira história, vamos chamar a professora de “professora A” e as crianças envolvidas de José e Maria. Na segunda história, a professora será a “professora B” e as crianças Francisco e Francisca. Pronto. Personagens nomeados e, “simbora”!
1ª História: Maria, José e a Professora A
Maria conhece José desde seus 3 anos de idade, hoje, eles estão com 7 anos. Estudam juntos desde a Educação Infantil. Maria sempre teve carinho por José, que é extremamente educado, carinhoso, bonzinho. Maria, um dia, disse aos seus pais que, namorava José. Os pais, ouviram o relato de Maria e dialogaram sobre o “namorar”, argumentando que criança não namora, mas tem amigos, que podem brincar juntos, podem se achar “bonitos”, legais. E que, quando crescerem, tanto Maria, quanto José irão decidir se vão namorar ou não.
José, se parece muito com o pai de Maria, e não estamos falando de traços físicos. O pai de Maria também é carinhoso, acolhedor com a mãe de Maria e, Maria observadora que só, transferiu sua experiência familiar para o carinho com seu amigo José. Os pais de José sabem do carinho que o filho também tem por Maria.
Um belo dia, Maria, em fase de alfabetização, resolveu fazer uma “cartinha” com um desenho para levar para José. Maria tem o hábito de escrever “cartinhas” para as amigas da sala e, naquele dia, José foi o escolhido.
Com um desenho de Maria e José ilustrando a cartinha, a mesma dizia: “José você quer ficar comigo”, sem ponto de interrogação ou vírgula, mas uma frase, exatamente assim. Maria mostrou a cartinha ao seu pai, que, acolhedor, elogiou o desenho e perguntou: “Maria, o que você quis dizer com quer ficar comigo?” Maria, com toda a ingenuidade de uma menina de 7 anos, respondeu: “Ué, pai! Ficar comigo no recreio, no parque, na hora do brinquedo. Brincando, ué!” O pai, teve a resposta que queria e sinalizou que Maria podia guardar a cartinha na mochila.
No outro dia, Maria feliz, foi entregar a cartinha ao amigo José, assim como faz com outras amigas. A professora de Maria viu a entrega, tirou a cartinha da mão de José e, em tom de voz ríspido, olhou “brava” para Maria e disse: “Essa cartinha vai para a coordenadora!” condenando, em seu ato, a gentileza de Maria. Em momento algum, a professora A, foi perspicaz em questionar, como o pai de Maria fez, o escrito de Maria. Como professora, alfabetizadora e, com anos de experiência na profissão, a professora de Maria demonstrou não entender de escuta ativa!
Deveria, como professora, ficar feliz com o escrito! Com a aprendizagem da aluna, que com maestria, entendeu a função social da escrita, produziu um portador textual, desenvolveu uma frase sem erros ortográficos. Mas não, sem demonstrar olhar pedagógico aguçado, refutou uma atitude ingênua e perdeu, PERDEU, a oportunidade de desenvolver uma excelente aula em cima de uma cartinha… Poderia ter falado de função social da escrita, ter trabalhado um novo portador textual, poderia ter, até abordado o assunto de “namoro” na infância, caso este aparecesse…
Maria chorou. Contou aos pais o acontecido, perguntando o que tinha de errado em sua atitude. “Em sua atitude, nada, minha filha! Nem todas as pessoas sabem entender o afeto.” Maria contou para sua psicóloga, com lágrimas nos olhos, a situação toda. A psicóloga, fez a intervenção e Maria compreendeu que estava tudo bem com sua demonstração de afeto! José, também contou em casa o ocorrido, e disse para a mãe que ficou triste, porque Maria chorou e a professora não o deixou acalmar Maria (José sempre acalmou Maria quando ela chorava, lá com seus 3 anos de idade e em fase de adaptação escolar…)
2ª História: Francisca, Francisco e a Professora B
Agora, vamos falar da segunda história, que envolve a Professora B e seus alunos, Francisco e Francisca, com seus 9 anos de idade, recém adquiridos! Francisca “pediu” Francisco em namoro. Francisco aceitou. Contou em casa que estava namorando com Francisca e que o pedido veio no intervalo, na hora do recreio. A mãe de Francisco (assim como na história de Maria e José) se parece muito com Francisca, mas no jeito de ser vaidosa, educada, carinhosa.
A mãe, questionou Francisco, como ele “namoraria” Francisca, já que ambos são crianças. Francisco, informou que sentam perto, na sala de aula, e que conversam no intervalo. A mãe, dialogou com o filho sobre o “namorar”, trazendo uma explicação sobre isso ser “coisa de adulto”.
No dia seguinte, a mãe de Francisco procurou a professora B logo na entrada e informou sobre a situação, pedindo a intervenção da professora, que informou que conversaria com ambos.
De maneira lúdica, a professora abordou o assunto na sala, sem mencionar nomes. Falou sobre o tema e perguntou porque eles acham que crianças não poderiam namorar. O levantamento das hipóteses foram bem longe: porque não tem carro ou moto, porque não tem dinheiro para passear, porque criança não namora, porque beijo é coisa de adulto… A professora B foi validando as hipóteses, estabelecendo diálogo e explicação sobre cada uma delas.
Francisca começou deixar as lágrimas escorrer pelo rosto e disse: “Mas eu namoro o Francisco!” A professora, acolheu Francisca com um abraço e disse que o sentimento de amizade, o carinho, o sentar perto, o conversar, poderiam continuar e que isso se chama amizade! Que é bom ter este sentimento e que, quando eles crescerem a amizade pode ser transformada em o “amor de namorado”. Que hoje, nada mudava na situação, apenas o “nome” estava errado, não era namoro, já que diante das hipóteses sobre o que seria “namorar” a situação deles não se enquadrava em nenhuma delas.
Francisca entendeu, colocou um sorriso no rosto e perguntou se poderia continuar achando Francisco “lindo”. A professora sinalizou que sim, que é muito bom termos afeto e carinho pelos colegas e que estava tudo bem com isso!
A mãe de Francisca, dias depois, também comentou com a professora B sobre o tal “namoro” que “virou amizade” e agradeceu a intervenção, já que a filha contou em casa toda a história.
Afetividade na Infância: caminhos possíveis
Escuta ativa permite que o adulto mediador, colha da criança o que ela tem de conhecimento prévio do assunto. Permite entender seus anseios, seus questionamentos. Permite fazer a intervenção mais certeira possível. Permite que a criança seja acolhida.
A você, leitor, leitora, eu deixo um pedido de ação e reflexão: JAMAIS, NUNCA, EM HIPÓTESE NENHUMA, deixe de emprestar seus ouvidos para ouvir, além do que as orelhas escutam. ESCUTAR vai muito além de ouvir. Escutar envolve o coração, a alma!
Se você é profissional da educação, estenda sua escuta a todos aqueles que a sua profissão lhe confiar… Se você é pai, mãe, avó, avô, tio, tia, não importa seu papel, se uma criança for confiada a você, para cuidados, educação, proteção, OUÇA, dialogue, explique. Não tome por base a “sua régua”. Cada um tem sua “medida” e esta precisa ser respeitada!
Nosso plano de Mentoria pode ajudar você, profissional da educação ou pais, a lidar com esta temática de maneira acolhedora. Conheça nosso serviço de MENTORIA.
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